domingo, 16 de março de 2008

Desconfio que...

Faltando 37 dias para as próximas prévias dos partidos Democrata e Republicano no Estados Unidos da América, a atual candidata democrata Hillary Clinton vai ter suar um pouco mais a camisa para ultrapassar o número de delegados do seu companheiro de partido Barack Obama. Uma disputa que está acirrando os ânimos tanto de políticos, quanto de eleitores estadunidenses, e até de brasileiros. Hillary é a primeira mulher a ter chances reais de disputar a presidência dos Estados Unidos, e como a conjuntura tem nos mostrado, ironicamente, precisa vencer o primeiro negro com igual possibilidade.

No Brasil não é novidade a disputa de uma mulher à presidência da República, afinal em 2006 tivemos como candidata, a socialista Heloísa Helena (PSOL) que chegou a conquistar 6% dos votos válidos. Tendo resultados ainda mais positivos em estados como o Rio de Janeiro, onde conquistou 15%. O fato é em 2010 a participação de mulheres na campanha presidencial brasileira deve aumentar.

Em curso uma articulação em torno da atual ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef (PT). A possível candidatura de Dilma Roussef em 2010 pode ser confirmada com alguma observação sobre os fatos.

Figura pública mais projetada do governo Lula desde que assumiu a Casa Civil, Dilma recebeu um impulso a mais em sua popularidade ao ser intitulada pelo próprio presidente Lula como a “Mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento) na sexta-feira, dia 7 de março, quando foram inauguradas as obras da Comunidade do Alemão, no Rio de Janeiro. Os investimentos federais e estaduais nas obras da Comunidade do Alemão, que deve beneficiar outras áreas como Manguinhos e Rocinha e que devem incluir contruções de casas, creches, escolas, unidades de saúde, devem passar de R$ 1 bilhão.

No lançamento Lula negou o caráter eleitoreiro das obras ao afirmar “Não disputo mais eleição no Brasil porque meu mandato termina em 2010”, mas deu o start para a sucessão quando revelou a maternidade do PAC. Aqui podemos dizer que não é mera coincidência o fato do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ter sido eleito 1994 como o “Pai do Plano Real”, já que tinha sido Ministro da Economia no governo de Itamar Franco. O fato é que conferir graus de paternidade ou maternidade a presidenciáveis não é tática nova na política brasileira.



No dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, os jornais estamparam a foto da Ministra no lançamento do PAC no Rio. No texto publicado no jornal O Estado de S. Paulo, os repórteres deixam claro que a exposição de Dilma é parte da estratégia de Lula para definir seu sucessor. Entre os possíveis nomes também estaria Tarso Genro (PT), Marta Suplicy (PT) e Ciro Gomes (PSB), entre outros. O mesmo jornal publicou na capa uma foto muito curiosa onde Dilma – por efeito de sobreposição – aparece com uma coroa na cabeça. Criatividade do fotojornalista? Criatividade maior do governo ao lançar as obras na véspera do 8 de Março.

Em entrevista dada pelo Presidente Lula ao jornal O Estado de S. Paulo na semana passada o presidente descartou qualquer possibilidade de aliança nacional com o PSDB. Ele apontou para uma possível sucessão sim, mas de emergentes da base aliada. Sinceramente, apesar do cada vez mais visível o apagamento da fronteira entre o programa do PT e do PSDB, acredito ser difícil uma jogada que busque solidificar uma aliança entre os dois partidos, tendo em vista que ainda há nomes inabalados dentro do próprio PT.

Dilma também é conhecida pelo pulso forte. Blindada pelos governistas transformou-se numa espécie de Primeira Ministra, ou uma “Dama de Ferro” do governo Lula, apelido que não raramente tem sido lhe atribuído pelo papel primordial que desenvolve atualmente na gestão do PT. A seu favor o fato de não ter sido envolvida em escândalos, ser conhecida por pulso forte e seu caráter ilibado. Ao contrário de seus antecessores Antônio Palocci e José Dirceu, ambos tidos como possíveis sucessores de Lula, mas que foram “atropelados” por inúmeras denúncias de desvio de dinheiro público, abuso de poder, entre outras “coisitas” que os afundaram na lama do “mensalão”.

Parece que Dilma sobrevive. Seria ela uma possível candidata à Presidência nas eleições de 2010? Desconfio que sim. Isso se não houver nada que pese contra ela até lá.