domingo, 22 de abril de 2012

Hay negros en Argentina?


Estive recentemente na Argentina, nosso pais vizinho mais querido. Para ser mais precisa, minha viagem de seis dias foi apenas pela cidade de Buenos Aires, capital federal daquele país. Mesmo antes da viagem – a primeira realizada à capital portenha – muitos de meus amigos que estiveram por lá em outras ocasiões mencionaram tipos diferentes de relação que nossos vizinhos mantêm com os negros.

Enquanto alguns alertavam que o país tinha um preconceito de raça superior ao do Brasil, outros me diziam que as mulheres negras fazem sucesso com os “hermanos”, principalmente as negras brasileiras. De mente aberta, durante o tempo em que estive na cidade, tentei não levar a cabo nenhum dos comentários, ainda que, tenha percebido que ambos estivessem corretos.


Por um lado, fiz sim muito sucesso! Uma amiga chegou a postar no Facebook que “por onde a black-power passava, todos os olhares se voltavam para ela”. Os olhares, em geral, eram um misto de curiosidade e admiração, afinal, se o cabelo black-power ainda causa curiosidade no Brasil – país de maioria afrodescendentes – imaginem na Argentina, onde não existem negros?

Pois é, essa é uma das muitas impressões equivocadas que temos da Argentina – à parte o fato de que eles não gostam de brasileiros, o que é uma grande mentira – os argentinos também não são apenas compostos pela etnia branca europeia. Assim como no Brasil, lá houve escravidão de negros durante os séculos XVII e XVIII.

A escravidão negra da Argentina foi abolida em 1843, antes da nossa, de 1888. Em meados do período colonial o país chegou a ter 54% da população composta por negros, mas boa parte – negros engajados como soldados – foi dizimada durante a guerra entre espanhóis e ingleses (Leia wiki: Invasões Britânicas) e também durante a Guerra do Paraguai. Isso porque os negros eram enviados como “infante” para morrer primeiro.

Outro motivo para o sumiço dos negros foi a epidemia de febre amarela, que afetou, sobremaneira, as porções mais carentes da população, que a esta época, eram compostas por negros libertos. Assim como no Brasil, após a escravidão, os negros argentinos foram jogados à margem do sistema. Sem políticas públicas capazes de auxiliá-los no enquadramento funcional e na formação das famílias, viveram alienados do trabalho, isolados culturalmente do restante da sociedade e reféns dos infortúnios da miséria.

Mas, para além desses “detalhes históricos” tantas vezes não mencionados – nem aqui e nem lá – existe também um componente ideológico, que como aqui, ganhou força durante certo período na Argentina. Trata-se da política de branqueamento da população. Assim como no Brasil, o governo portenho – pautado pelas teorias externas de Cesare Lombroso e outros – acredita que o desenvolvimento e o progresso do país estavam atrelados à cor da pele da população. O mesmo se discutia por aqui por meio da antropologia racial (ou seria racista?) de Nina Rodrigues.

Assim, a política de branqueamento argentina baseou-se no registro de todos os descendentes de escravos como brancos, o que provocou o sumiço dos negros da estatística Argentina, conforme afirma o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto (Leia mais aqui), e também pela política de incentivo à imigração europeia, com doações de terras e de postos de trabalhos aos descendentes espanhóis, italianos, alemães, russos e outros. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.

O fato é que, tendo estado lá por um período de apenas seis dias, pude obsevar que, em Buenos Aires, os negros são invisíveis. Eles não estão nas ruas, não estão nas praças, não estão no passeio público! Era possível contar os que – além de mim – passeavam pelos pontos turísticos da cidade durante o Feriado de Páscoa! Não deixei de notar uma certa semelhança com o eixo central da cidade de São Paulo, cidade onde os afro-brasileiros só são vistos durante os dias da semana, quase sempre ocupando os vagões lotados do metro para seguir em direção ao trabalho.

Além de ter sido surpreendida pela admiração dos homens portenhos pela beleza negra, fui surpreendida também por exclamações racistas do tipo “parece negro!”, dita a um taxista que atravessava o sinal vermelho e, por piadas racistas sendo contadas em praça pública por um grupo de capoeiristas que mais parecia um grupo de palhaços (com todo respeito aos palhaços, mas não achei outra denominação para fazer o paralelo).

Enquanto divertiam o público com gingados nada familiares, desferiam frases de mau gosto como “Le has dado su bolso? Él es negro!” a uma jovem que topou participar da brincadeira e entregou a bolsa a um dos componentes do grupo, que era negro. Todos riam, como se parecessem não se importar. Tive a impressão de que a Argentina, assim como o Brasil sofre de contradições extremas, resultantes de um processo de colonização que torturou e assassinou pessoas, dizimou raças inteiras e mais, teceu arrogante e diametral destruição das culturas. E olha que eu nem cheguei a citar os indígenas...

Menos de 5% da população argentina se declara afrodescendente (dados não confirmados), quando um estudo realizado pela Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (UBA), mostrou, em 2006, que 20% dos entrevistados acreditavam que tinham ascendência africana, porém não tinham certeza. Ao que parece, a política de branqueamento argentina, em especial, a obrigatoriedade do registro do negro liberto e seus descendentes como brancos teve um impacto devastador sobre a cultura afro-argentina. (Com informações da Revista Aventuras na História, edição de 01/06/2005)

Você pode gostar também de:

Existe Sim Negros na Argentina, em Hebreu Suburbano
Onde foram parar os negros da Argentina? Aventuras na História 
Faculdade de Filosofia e Letras da Univ. de Buenos Airess
Instituto Nacional de Estatística e Censos – INDEC 
Instituto Nacional contra a Disc., a Xenofobia e o Racismo.

6ª Prêmio Educar para a Igualdade Racial está com inscrições abertas


Desde sua primeira edição, em 2002, o prêmio “Educar para a Igualdade Racial” ocupa papel destacado entre as iniciativas da sociedade civil comprometidas a construção de uma educação igualitária e de qualidade social. 


O prêmio encontra-se em sua 6ª edição, sendo uma iniciativa do Centro Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), em parceria com o Banco Santander no Brasil, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República/SEPPIR, com apoio de diversas instituições públicas e privadas. Idealizado há onze anos o prêmio incentiva educadores de todo o Brasil a adotarem programas e ações voltados para a valorização da diversidade e promoção da igualdade racial.

Ao longo desse tempo foram catalogadas quase 2.000 práticas pedagógicas relacionadas à educação igualitária oriundas de todos os estados brasileiros e de todos os níveis educacionais, exceto o superior. O objetivo é prosseguir valorizando o protagonismo dos(as) educadores(as), fortalecendo a progressiva institucionalização das ações educacionais e contribuindo para a efetiva implementação da LDB e das diretrizes curriculares que se ocupam do tema.

O prêmio é dividido em duas categorias: professor e gestão escolar. A primeira, mapeia e dá visibilidade às boas práticas escolares desenvolvidas por professores. A segunda, incentiva as iniciativas planejadas e executadas diretamente pela gestão escolar. As escolas premiadas são beneficiadas com plano de acompanhamento para estimular e potencializar a institucionalização das práticas.

Participação

A significativa participação de iniciativas adotadas por escolas, a exemplo do sudeste (15,5%) e nordeste 
(17,8%) pode ilustrar o impacto da implementação da LDB alterada pela lei 10.639/2003, indicando pistas para a institucionalização de políticas educacionais de promoção da igualdade racial – objetivo último do prêmio e certamente de todos que atuam nesse campo. 

Cada vez mais o prêmio ganha feição verdadeiramente nacional: Sul e Sudeste, concentravam 72% das inscrições. Com o passar dos anos, as inscrições foram se distribuindo pelo país, de sorte que na última edição, ambas as regiões concentraram 51% das inscrições, e o nordeste teve uma significativa ampliação, atingindo o segundo maior percentual, qual seja 29%. 


Alguns Dados

  • Ano a ano cresce o número de práticas inscritas no âmbito nacional: 1ª edição - 210; 2ª edição - 314; 3ª - 393; 5ª - 785. (Observação – a 4ª edição foi realizada apenas no Estado de São Paulo);
  • A 5ª edição foi a que apresentou mais projetos voltados à Educação Infantil, totalizando 47%, contra 16,4% da edição anterior;
  • A expressiva participação de educadores(as) brancos(as) na implementação das práticas (37%) indica que o tema vem sendo considerado como algo de responsabilidade de todas as pessoas e não apenas de negros ou indígenas;
  • A cada cinco iniciativas, quatro resultaram da ação das mulheres;
  • 75% das escolas apontam a promoção/valorização da diversidade étnico-racial, com ênfase na temática africana e afrodescendente, como objetivo ainda a ser alcançado. 
Sobre o CEERT 

O Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), fundado em 1990, é uma organização não-governamental, apartidária e sem fins lucrativos. A missão do CEERT é combinar produção de conhecimento com programas de treinamento e intervenção comprometidos com a promoção da igualdade de oportunidades e de tratamento e a superação do racismo, da discriminação racial e de todas as formas de discriminação e intolerância. A ONG desenvolve projetos nas áreas de diversidade no trabalho, educação, Direito, acesso à Justiça, políticas públicas, saúde e liberdade de crença. Além de prestar consultorias a empresas, prefeituras e órgãos públicos interessados em implantar políticas de valorização da diversidade e de promoção da igualdade racial. 


Mais informações 
Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) 
Endereço: Rua Duarte de Azevedo, 737 – Santana 02036-022 – São Paulo. SP.
Telefone: +55 (11) 3804-0320 

Intelectual negra defende escrita como direito da cidadania na Bienal do Livro e Leitura de Brasília

No mesmo debate, o sambista e escritor Nei Lopes defendeu a existência de uma literatura afro-brasileira. 

Brasília – A escritora mineira Conceição Evaristo defendeu nesta semana, durante debate na 1ª Bienal do Livro e da Leitura, a escrita como um direito de todos, que alcance camadas mais pobres da população e mesmo as excluídas em certos contextos, como as mulheres. “Tanto como a saúde e a educação, as populações pobres e as mulheres têm direito de se apropriar de um instrumento que, por vezes, é encarado como propriedade de certos estratos sociais”, disse.
Para ela, esses grupos precisam garantir o acesso à linguagem, à leitura e à escrita ou estarão sendo lesados em sua cidadania. “Essas populações precisam se apropriar desse direito para uma cidadania plena. O domínio da leitura e escrita é essencial, principalmente, em uma sociedade em que vale o que está escrito”, defendeu a autora de Ponciá Vicêncio.

Em um debate sobre o papel do negro na literatura brasileira, Conceição lembrou da construção ficcional de personagens negras, principalmente a de mulheres a quem, em geral, é negado o direito à maternidade. “Na literatura brasileira, nossas mulheres negras não são mães. No máximo, a mãe preta, que cuida da prole alheia”, disse a escritora mineira.

Para ela, da mesma forma que o discurso histórico tenta esconder os feitos e as contribuições de negros africanos para a construção do Brasil, a literatura pode estar caminhando nessa mesma direção ao silenciar personagens negras. Ela citou romances como São Bernardo, de Graciliano Ramos, e Agosto, de Rubem Fonseca, como exemplos de textos em que os negros existem como personagens, mas não têm direito à fala. “O que uma ficção que cria personagens sem fala está construindo? A literatura brasileira nega a presença negra na constituição da nacionalidade brasileira?”.

Perguntada sobre estratégias para quebrar esse silenciamento – tanto na literatura como na vida das mulheres –, ela citou a educação como ponto prioritário. “É a questão de furar brechas, de se apropriar de determinados conhecimentos. Volto à questão da escrita, da alfabetização. [É preciso] furar esses espaços e se apropriar dessas ferramentas que, se não propiciam um lugar melhor economicamente, propiciam possibilidade de crítica e enfrentamento.

No mesmo debate, o sambista e escritor Nei Lopes defendeu a existência de uma literatura afro-brasileira. “A literatura negra existe. Ela [a literatura] é um conjunto de criações que se referem a determinado contexto geográfico, linguístico ou temporal. No caso da literatura afro-brasileira, o elo é a questão identitária [que cria identidade]”, defendeu o autor da Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana.

Fonte: http://www.africa21digital.com, em 22 de abril de 2012