segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A 25 de Março e o “pretinho” básico de cada dia

Deixar o conforto das ruelas marmorizadas e do ar-condicionado dos shoppings centers da Metrópole e adentrar a caótica Rua 25 de Março já é em si um desafio. Num dia próximo ao Natal, o desafio se transforma em aventura - dramática às vezes - sobretudo, para quem não tem o hábito nem sequer de freqüentar ruelas marmorizadas.

Depois de descer a Porto Geral: – Olha o rapa! Olha o rapa! Entrei na 25 de Março onde, em meio a um corre pra cá um corre pra lá, percorri a Rua da Av. Rangel Pestana até a (...): – Pega o pretinho! Pega o pretinho! De repente, um homem fardado passa a rasteira no menino, ele cai desajeitado. Afoito pela correria, parecia não saber ao certo de onde viera o golpe.

Já era. – O “rapa” pegou menino. Sim, um menino. Ele tinha lá seus 14 anos. Vendia camisetas Made in China, da Levi’s, da Adidas, Puma, coisas assim. A cena chamou a atenção dos passantes, flâneurs de outro tipo num consumismo de tipo igual. Ninguém se indignou. Vida que segue.

Na loja de bijus, a moça foi presa. – Tava roubando? – perguntou a senhorinha. – Tava incomodando os clientes – respondeu o segurança. Da porta da loja, olhei pra dentro, olhei pra fora: a cena parecia a mesma, do “pretinho” nosso de cada dia.

Se o menino vai preso, é negro, não importa o que fazia, se vendia, camisetas Made in China ou Paraguai. A moça jovem, é negra, incomodava os clientes com sabe-lá-o-que. Na esquina da General Carneiro outro negro, esse nem tão jovem, abordado por policiais, as mãos para trás. Ninguém perguntou seu nome. – Tem família? – ninguém perguntou.

São todos meio indigentes, sobreviventes em cidades invisíveis que poucos tem intenção de conhecer. Eles, porém, não são invisíveis, são avistados de longe, “identificados” pela cor que estampam na pele.

Mais a frente, uma manifestação - em alto volume e em baixo tamanho - entoava palavras de ordem: – Polícia na rua é pra prender ladrão! Soube depois que o protesto, apenas mais um de inúmeros que vêm ocorrendo na região, era para contestar a nova política de segurança da cidade, que coloca a PM para reprimir o comércio ambulante no lugar da Guarda Civil Metropolitana.