terça-feira, 28 de setembro de 2010

Felicidade clandestina

Acordou naquela manhã, eufórica, assustada. O sonho não tinha sido dos piores, mas trouxe uma angústia sufocante. Nele um ex-namorado apareceu ao lado de outra garota, loira. A mesma que anos atrás havia visto com ele sentado num bar na rua da badalação. Por alguns instantes tentou entender o recado. Que momento era esse para tal lembrança tão distante dos tempos da adolescencia aparecer assim tão desfocada? O ambiente era outro, as amizades completamente outras, até o sorriso maroto já não parecia mais o mesmo. Dias depois resolveu escrever-lhe. Nada de mais, apenas um “Oi, como vai? Tudo bem?” – queria deixar para trás o incomodo do sonho; sonhado quase como uma profecia. Bastava saber onde andava, o que fazia, não tinha sido só um grande amor, mas também seu primeiro amante. Escreveu. A resposta veio na noite seguinte, antes de dormir. Poucas palavras que contam uma vida: um trabalho, um estudo, uma família, palavras carregadas de felicidade. Tudo assim tão completo. E ele tem apenas trinta e poucos anos. Sentiu uma ponta de tristeza, afinal, era o que havia perdido, deixado para trás como tantas outras histórias. Aos poucos a tristeza esvaiu-se do peito, como água que bate na pele e desliza buscando enfim outra morada. Um tipo de felicidade apareceu – clandestina – daquelas que se sente sozinho no quarto à noite ao pensar que bem distante alguém que um dia amamos é feliz.