quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Liberdade religiosa para quem?

Outro dia, ouvindo o programa do candidato ao governo da República, José Serra (PSDB), percebi que sim, a religião está no centro das eleições presidenciais de 2010. Um amigo chamou isso de “americanização das eleições”, já que nos Estados Unidos, manter relações com países mulçumanos, cogitar a aprovação de políticas sobre aborto e questões “morais” como união civil entre homossexuais estão sempre no foco central da disputa entre Democratas e Republicanos (uma vez que a política econômica, e as reformas estruturais estão, quase sempre, no mesmo patamar nos dois partidos). Infelizmente o Brasil passa por momento parecido. Os dois candidatos à presidência da República têm realizado uma verdadeira via crucis, peregrinando entre a devoção carismática católica e o conservadorismo neopentecostal.

Muito desse debate teve início ainda em 2009, por conta da elaboração do PNDH3 (Plano Nacional de Direitos Humanos – Decreto 7.037), no qual havia um dispositivo que orientava a não ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União. Ou seja, numa interpretação mais radical da proposta, enxergava-se a possibilidade (creio eu, bastante remota) de se retirar, por exemplo, os crucifixos e outros adornos religiosos de casas públicas, como prefeituras, assembléias legislativas, congressos etc. O que ninguém quis debater àquela altura era se, realmente, manter esse tipo de artefato nos espaços públicos, não era um atentando contra as religiões não-cristãs, ou mesmo aos ateus, uma vez que, pretendemos viver num Estado laico.

O PT – pelas opções que tomou ao longo dos dois governos Lula – não consegue dar um “passo a frente” nessas questões, que sinceramente, em pleno século XXI já deveriam ser tomadas como básicas para a consolidação de um Estado Democrático de Direito (laicizado, diga se de passagem) e, portanto, para a consolidação dos direitos humanos individuais e coletivos, tal como uma suposta democracia de milhões deveria ter. Hoje o moralismo religioso se tornou o ponto chave das eleições. E mesmo antes, com relação ao PNDH3, o recuo petista já era visível.

Dias atrás houve no Rio de Janeiro uma grande caminhada, a III Caminhada pela Liberdade Religiosa. Estavam lá os judeus, os mulçumanos, os filhos da deusa, os descendentes de Oxum e Oxalá. Não vi nenhuma menção à presença de presidenciáveis. Aliás, o candidato tucano, José Serra, chegou mesmo a chamar de macumba o fato de ter sido sorteado duas vezes (para perguntar e para responder) durante debate realizado pela TV Gazeta/Estadão no dia 9 de setembro. Ao afirmar “tem alguma macumba nessa urna aí” ele fez evidente associação entre macumba com algo ruim, o que, ainda que esteja presente no vocabulário popular, acaba depondo contra o presidencial no que se refere a sua visão das religiões de matrizes africanas.

O mesmo PNDH3, que mencionei acima, acirrou um debate contrário à legalização do aborto, bandeira histórica dos movimentos de mulheres e mais, uma questão de saúde pública real, problemática e de responsabilidade do Estado. Agora todos parecem recuar, em nome de uma “suposta família brasileira”, que “nunca abortou”, que é fielmente católica ou neopentencostal.

Fico pensando que liberdade religiosa é essa que se impõe por uma prática moralista que não leva em crédito os perfis das minorias religiosas discriminadas? Sim discriminadas!!! O que está acontecendo hoje no Brasil é uma verdadeira inversão da pauta da liberdade religiosa. As grandes instituições religiosas “carismáticas” estão se arrogando o direito à sua fé, enquanto seguem cada uma ao seu modo, demonizando os outros tipos de culto, cuspindo em santas, apedrejando centros de umbanda e candomblé, depredando as estátuas de Iemanjás em muitas cidades, excluindo os praticantes do convívio comunitário.

É surpreendente isso que está acontecendo nas eleições 2010, em que a maioria religiosa se acha no direito (que é assumido como compromisso pelos candidatos a governar o Estado) de se manter como a maioria, de ter “garantido seus direitos” de seguir discriminando as outras religiões, seja criticando, como fez parte da Igreja Católica, campanhas como a “Quem é do Axé Diz que É”, que estava sendo realizada durante o CENSO 2010 para incentivar os praticantes de religiões de matriz africana a declararem seu credo, seja criticando o ensino da história da religião de matriz africana nas escolas, como fizeram os neopentencostais durante a discussão do PNDH3. Ao que tudo indica, o fundamentalismo religioso anda ganhando adeptos também aqui em terra brasilis.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Tempo do Novo no Acontecimento Jornalístico


Autor: Ana Claudia Silva Mielki 
Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo 

RESUMO
O artigo busca identificar como o discurso jornalístico constrói o imaginário do novo nas matérias dos jornais A Gazeta e A Tribuna, de circulação regional no Estado do Espírito Santo. A metodologia inscreve-se nos  imites da Análise do Discurso (AD) como método que permite interpelar o texto (do seu ponto de vista formal) e o contexto (ou as determinações e deslocamentos sócio-históricos presentes nas condições de produção do discurso). Em outras palavras, uma análise da língua fazendo sentido. O objetivo é entender como as marcas cronológicas do tempo na enunciação operam a construção do sentido daquilo que é tomado como “novo” a partir de um marco temporal no acontecimento discursivo jornalístico.

PALAVRAS-CHAVE:  Jornalismo, Discurso, Novo, Tempo, Ideologia

Artigo apresentado no DT1: DT 1 - GP Teoria do Jornalismo do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado em Caxias do Sul (RS) entre os dias 3 e 6 de setembro de 2010.

Clique
aqui para ler o artigo na íntegra.