terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Rapadura é doce, mas não é mole não

2010 é ano de eleições. Não por acaso Lula, o filho do Brasil, filme de Fábio Barreto, entrou em cartaz no dia 1º de janeiro, com perspectivas de ser distribuído em boa parte do território brasileiro e assistido por mais de 3 milhões de expectadores em salas de cinema.

Não gostaria de ficar resgatando aquilo que já foi dito por tantos críticos de cinema (ou de política) sobre ser uma narrativa emocional e simplória, como disse Lisandro Nogueira, que tem um pegada a la novela das oito; ou sobre ele ser feito para as pessoas pouco interessadas no aprofundamento político das circunstâncias ali inscritas; ou ainda sobre o filme ser uma ode ao Lula, uma espécie de consolidação de um mito, como já trabalhou César Benjamin (versão 1)em polêmico texto publicado no jornal Folha de S.Paulo.

No entanto, fica difícil não ver o filme sem querer dizer um pouquinho sobre ele, em especial quando se sai da sala de cinema com uma ponta de frustração.

Ao que parece, o filme buscou fazer um recorte da vida de Luiz Inácio da Silva (antes do Lula) a partir do relacionamento dele com sua mãe, dona Lindu (interpretada pela atriz Glória Pires), mas não encontrou nesse recorte o mesmo sucesso que teve Walter Salles quando filmou a vida de Ernesto Guevara (antes de Che) no filme Diários de Motocicleta. O filme deixa vácuos. Ao invéz de um recorte, o que fica é uma história mal contada, que se pretende desde um certo início, mas não vai a nenhum fim.


Comentários no pós-sala-de-cinema diziam que se trata da história de dona Lindu, o que torna razoável a forma como o filme termina. Talvez. Mas acredito que essa era uma informação privilegiada, de quem leu algo sobre o filme antes do filme. Em outras palavras, a personagem Lindu, ainda que com sua influência decisiva sobre a vida do Lula, não aparece na trama como a personagem principal – algo que ocasionalmente só ocorre quando, por conta de sua morte, o filme termina. A vida da mãe é ofuscada pela vida do filho metalúrgico-sindicalista-presidente. Assim como a interpretação de Glória passa longe da exuberante interpretação do ator Rui Ricardo Diaz, que faz Lula na fase adulta.

Aqui vale ressaltar que não importa se a intenção do diretor Fábio Barreto tenha sido a de mostrar a vida da mãe – o cinema não vive de intenções, ainda que algumas possam ser boas. O fato é que não é assim que a narrativa se constrói ao longo do filme, o que deixa uma sensação de “estar ao acaso”, aliás, como é toda a vida de Lula contada ali, um somatório de acasos sem fim.

Dizem por aí que o fime vai ser um epitáfio para as massas (em tempo de término de mandato e “aposentadoria” ). Sinceramente, nem nisso acredito. Sobretudo, com os ingressos das salas de cinema na casa dos R$ 20,00. E com a fiscalização contra a pirataria fechando o cerco, é improvável que tenha também o mesmo alcance que teve o famigerado Tropa de Elite, de José Padilha.


É claro que o filme tem um carater eleitoreiro, afinal como disse César Benjamin em seu texto (versão 2) muito dinheiro está sendo investido na distribuição do longa. “Reativam-se salas pelo interior do país e fala-se na montagem de cines volantes para percorrerem localidades que não têm esses espaços. O objetivo é que o filme seja visto por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente pobres”.

Por outro lado, tenho minhas dúvidas de que o filme vá fazer tanta diferença em termos de eleição. O filme personifica o mito, mas quem concorre à Presidência em 2010 não é o Lula e sim a ministra Dilma Roussef. E como se sabe na política, transferência de voto não é algo que pode ser tomado como certo, sobretudo no Brasil, onde vota-se na pessoa.

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