sábado, 31 de março de 2012
Escuridão
Ela pisou no freio quase que por um reflexo. Foram os 10 segundos mais longos de sua jovem vida. Ela viu a escuridão. Foi assim que ela própria descreveu aquele momento. Nada de ver a vida passar tão rápido, apenas escuridão. Quando acordou, já estava num quarto. Sentiu. Sua mãe, cansada, dormia numa cama improvisada ao lado. Sabia que pelas circunstâncias, estava tudo bem, ou quase tudo. Lúcida, lembrou do ocorrido. -- Nunca imaginei passar por isso, pensou. Mas ninguém nunca pensa. O imprevisível há de ser como um assopro. Desses que nos arrepiam a nuca quando estamos sozinhos em casa. Dizem os crentes: -- É a morte! Os céticos certamente vão dizer que um mero acaso, a brisa do verão, ou do inverno, tanto faz. Os esotéricos, esses vão intuir. Pressentimento. É claro, ninguém espera morrer. Ainda mais tão jovem e cheia de uma longa e bela vida pela frente. Às vezes, nem tão bela assim. Mas pouco importa. Os olhos já estavam abertos. Sentiu. A mão da mãe tocou-lhe o braço, pensou que a via, com o mesmo ar de cansaço de antes. Mas nada mais se viu.
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