Qualquer pessoa que visse a frase “caixa sem troco” pregada atrás do vidro de um guichê entenderia que não haveria ali troco para ser dado em qualquer que fosse a circunstância. Eu, pessoa “desligada” que sou, não pensei nisso. Apenas me aproximei do guichê.
– Por favor, coloca 10.
– Não tem troco senhora.
– Você não tem uma nota de dez reais pra me dar de troco?
– Não. Esse caixa não dá troco.
Eu estava com uma nota de 20 reais e queria recarregar 10 reais no meu bilhete único. Mas descobri que um dos dois guichês que atendem na Estação de Metrô Ana Rosa, simplesmente não dá troco. Ou seja, só atende a quem chega com o dinheiro contado para recarregar.
Esse fato cotidiano me fez lembrar a campanha para a prefeitura de São Paulo em 2008. Um dos bordões usados na ocasião pela candidata do PT, Marta Suplicy, foi o “Carrega na catraca”. Era um contra-ataque ao ato do prefeito – e na ocasião candidato à reeleição – Gilberto Kassab (DEM), que no início de 2008 proibiu os usuários do transporte coletivo de recarregarem seus bilhetes direto na catraca do ônibus, o que obrigou os usuários a utilizarem os guichês localizados nas estações do metrô.
Tudo bem, não era lá nenhuma plataforma estrutural de governo (muito menos original), mas para quem depende exclusivamente do transporte coletivo, o fato é que deixar de carregar o bilhete no ônibus gerou certo transtorno.
De lá pra cá, não dá pra afirmar que o sistema mudou muito. O prefeito, que tomou a decisão de eliminar a recarga na catraca, deveria ter, ao longo dos últimos meses, pelo menos dobrado o número de atendentes nos guichês localizados nas estações do metrô. Não foi isso que aconteceu. Ao contrário, medidas “estranhas” e que vem sendo aplicadas à revelia de muitos, dificultam cada vez mais a vida dos usuários.
Uma delas foi realizada há poucos meses quando os guichês, que recarregavam o bilhete único com cartões de débito, pararam de aceitar a bandeira Visa. Ninguém (pelo menos eu não vi) soube explicar porque se manteve a bandeira MasterCard. O rapaz que trabalha num desses guichês me explicou outro dia.
– É porque o Visa dá muito problema na hora de recarregar.
Eu, na minha falta de informação a respeito, me calei sem argumentos.
O fato é que a Planetek, empresa que administra os guichês, tomou a decisão de manter apenas o MasterCard (RedeShop/Maestro) e o Panamericano/Pague Express. Mais uma vez, obrigando os usuários a sacar dinheiro antes ou, em última análise, a migrar para outra operadora de cartão (eu sinceramente estou pensando nisso).
Para quem não lembra o Panamericano/Pague Express não apenas colocou publicidade nas cabines de recarga do bilhete (visíveis ainda hoje), como também destacou funcionári(as) para fazer o cadastro de quem quisesse adquirir o cartão de crédito da empresa. A vantagem: "Pague em até 40 dias a recarga do seu bilhete único". A propósito, a abordagem era feita nas enormes filas para recarregar o bilhete único. Também não ouvi muitos comentários sobre a legalidade disso.
Agora, não bastasse o aumento no número de pessoas que estão recarregando o bilhete único nas estações do metrô por conta da restrição aos fretados, o que vem aumentando as filas, um dos dois guichês da Estação Ana Rosa não aceita mais dinheiro de usuário que precise de troco.
“Caixa sem troco” era o que dizia o bilhete escrito à caneta azul esferográfica, improvisado atrás do vidro.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
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